Por Martins Silva, para a coluna Despertar -24/11/2020
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Você provavelmente já ouviu a pergunta: "Quem faz o palhaço rir?". Ser um bobo da corte era um trabalho digno (às vezes até mesmo almejado), afinal, significava estar bem próximo ao rei - mesmo que a custo de humilhações e deboches.
Senhoras e senhores, eu sou Martins, sejam bem-vindos à coluna Despertar. Pegue teu chá, café ou água, hoje vou indagar sobre a triste vida de um bobo da corte.
Um bobo da corte é uma espécie de arte viva, uma grande ironia ambulante, uma metáfora de si mesmo, e pra entender tudo isso, vamos começar do início.
Essa profissão já existe há milhares e milhares de anos. No antigo Egito pra entreter os faraós, ou na Roma antiga pra entreter os imperadores. Mas talvez ela tenha se consolidado mesmo, na era medieval por toda a Europa, cada rei tinha o seu palhaço, no meio disso através de tanto tempo e por vários lugares, acabaram surgindo vários tipos de bobos da corte.
Não é à toa que eles também têm vários nomes hoje em dia, Jester, Bobo Da Corte, Bufão, Truão, Coringa... E um bobo da corte poderia divertir um rei, de uma ou várias formas diferentes, cantando, tocando algum instrumento, jogando cartas ou alguns outros jogos de tabuleiro, fazendo malabarismos, contando piadas, inventando enigmas ou até mesmo divertindo o rei com algum defeito físico! Desde que o mundo é mundo, anões são usados de forma cômica, talvez o auge disso tenha sido na idade média.
Era muito comum ver um anão vestido de palhaço, fazendo graça pra alguém da corte. Mas não para por aí, corcundas, deficientes mentais, aleijados, todos eram chamados pra que seus defeitos se tornassem motivo de riso e deboche para a corte.
Na verdade, até a palavra "bobo" remete a isso, "bobo" vem do latim "balbus" que significa gago, a gagueira era outro tipo de deficiência, da qual as pessoas adoravam rir.
Os bobos da corte mais conhecidos eram aqueles usando todo um uniforme, guizos, capuz e, às vezes, segurando um cedro. Os guizos eram propositais, obviamente pra chamar atenção, pra que todos os olhos zombadores caíssem em cima, pra dar aquele ar de alguém atrapalhado que não passa despercebido.
Geralmente, os que eram deficientes mentais usavam um capuz de burro. Mas onde eu realmente quero chegar, é nesse tipo de bobo da corte aqui... Cujo capuz imitava a coroa do rei, eram esses que seguravam um cedro, que também imitava o cedro do rei, porém possuía o próprio rosto do bobo da corte nele. Uma coroa que não vale nada e um cedro que não dá ordem alguma, esse bobo da corte costumava ser um tipo mais inteligente de humorista, capaz de fazer sátiras sobre as pessoas da corte, críticas a politicagem, às intrigas de dentro do castelo e até mesmo piadas sobre o próprio rei. É bem importante ressaltar isso.
Não é à toa que esse bobo da corte usava uma coroa e um cedro de palhaço, ele fazia imitações cômicas do rei e era o único no reino inteiro que tinha permissão pra isso, era um poder único. Ou seja, todos debochavam de um bobo da corte, e o bobo da corte era o único no reino todo que podia debochar do rei, que comandava todos no reino.
Toda essa proximidade com o rei era de fato algo muito dúbio, enquanto por um lado existia toda essa convivência com a pessoa mais importante do reino, tendo oportunidade de conversar, jogar cartas, e em alguns casos ser um conselheiro ou até se tornar um amigo do rei, ainda sempre existia a zombaria, o deboche, a humilhação dos outros.
Era uma faca de dois gumes, tudo nessa vida tem um preço, não é? Qual é o preço de sua dignidade? Ou então sendo um pobre plebeu, o que você faria pra não morrer de fome?
Bem... O bobo da corte vivia inventando enigmas para os outros, talvez essas duas perguntas tenham sido seus próprios enigmas, sem resposta ou uma sendo a resposta da outra se tornando um paradoxo.
Vocês se lembram que no cedro do bobo da corte existia o rosto dele mesmo? Isso era pra ele rir dele mesmo, pra ele nunca se esquecer de que ele, a vida dele era uma piada.
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