Por Joyce Hellyen - Entrevistadora da Editora Frutificando Livros - 25/08/2021
Michele da Rocha Anselmo, ou só Rocha Anselmo, 21 anos, natural de Betim/MG, graduanda em fonoaudiologia na UFMG, apaixonada em transformar qualquer coisa em fantasia. Explora seu eu literário através de fanfics e originais postados na internet.
1 - Michele, conte-nos um pouco sobre o seu processo de inspiração para desenvolver sua obra literária
Bem, o processo de inspiração de O Silêncio das Estrelas foi desafiador e algo novo, mas que foi muito gostoso de fazer porque eu trouxe histórias da minha família, então as histórias e aqueles trechos em que eu falo sobre as reencarnações de Amada são histórias que realmente aconteceram na minha família, não de forma literal, né, foram inspiradas nas histórias que aconteceram na minha família. Então tem história dos meus avós paternos e foi um processo bem íntimo, mas que foi fácil porque são histórias que eu cresci ouvindo, então na hora de colocar isso no papel, foi bem divertido. Foi muito gostoso, e agora que ele está aí para as pessoas lerem, eu fico esperando meus pais comentarem e perceberem qual história eu referenciei ali, então é uma coisa bem legal. Também teve bastante inspiração em músicas e eu usei bastante das músicas que eu gosto de ouvir principalmente nas construções de cenas e descrições de cenários.
2 - E qual o seu personagem favorito e por quê?
Olha, eu até poderia fazer a linha e dizer que foi difícil escolher só um, mas é a Aura. A Aura com certeza é minha personagem favorita e foi muito divertido desenvolver ela. É uma personagem que eu não sou nada parecida, eu até queria ser mais parecida com ela, então foi muito legal escrever. A Aura tem uma personalidade muito forte, era muito bom de explorar e escrever as cenas com ela. É, com certeza, minha personagem favorita ao ouro, eu acho que ela trouxe tudo na personalidade para a história e ela tinha que ser a protagonista, sabe, então por mais que seja um pouco óbvio a protagonista é a minha favorita não tem como ser outro.
3 - Algum dos seus personagens tem características que foram inspiradas em si mesma?
Eu acho que mesmo inconscientemente, os personagens sempre acabam trazendo alguma coisa da gente, né, pelo menos sempre que eu acabo de escrever, às vezes eu percebo depois e penso “nossa, essa mania é minha e eu coloquei no personagem”, mas tem um personagem que a gente é bem parecido, é o Miza. A personalidade do Miza é bem próxima da minha na vida real, então foi um personagem que eu escrevi e pensava: “é, eu entendo, eu sei o que ele está sentindo”, então com certeza Miza é o que tem mais características parecidas com as minhas, mas todos os personagens acabam tendo uma coisa ou outra que a gente coloca até sem perceber.
4 - Como e quando se descobriu escritora?
Acho que eu nunca tive um momento assim, que “virou a chavinha”, em que eu percebi. Não consigo me lembrar de um momento exato em que eu percebi isso, eu lembro de ter 9/10 anos e já estar escrevendo minhas primeiras histórias, então acho que é uma coisa que vem do hábito de leitura que eu sempre tive. Por ler muito, eu também queria escrever e foi uma vontade que veio muito naturalmente, mas eu acho que comecei a me ver como uma autora/escritora de verdade já com os meus 19/20 anos. Tem pouco tempo que eu percebi que talvez eu poderia levar isso como uma carreira e não só como uma coisa que eu faço ali escondido ou só na minha.
5 - Qual foi o maior desafio durante a escrita?
Eu acho que o maior desafio foi me manter fiel a minha ideia até o final, porque sempre surgem aqueles pensamentos e dúvidas sobre tudo o que você escreveu. Então, eu fiquei muito em dúvida e pensava: “Ah, será que esse personagem aqui, o Benji, por exemplo, será que ele é muito irritante? Será que as pessoas não vão conseguir criar empatia por ele? Será que a Aura está muito irreal?”... Esses pensamentos são bons porque você acaba se desafiando e pensando duas vezes sobre as coisas que você escreve, então você consegue evoluir e refinar aquela história, mas ao mesmo tempo traz muita insegurança e por muitas vezes eu pensava em retirar algum detalhe ou algum fato sobre algum personagem. Mas acho que faz parte e, com certeza, foi um dos principais desafios, ir até o final com a minha ideia e com aquilo que eu realmente queria do livro.
6 - Conte-nos um pouco sobre os seus autores favoritos e a influência que exercem na sua vida.
Tem 3 autores que são meus favoritos: o Pedro Bandeira, Douglas Adams e Victoria Schwab. Cada um deles tem uma importância e influência diferente em distintas fases da minha vida. A Droga da Obediência foi meu primeiro livro, o primeiro que eu li, me lembro de que eu o devorei. Eu era bem nova e muitas coisas eu não compreendia muito bem, mas eu fiquei tão encantada pela escrita do Pedro que eu comecei e, desta forma, as portas do interesse pelo mundo da literatura se abriram. Então, tenho um carinho muito especial pela escrita do Pedro Bandeira e pelas obras dele, foi ele quem plantou a “sementinha” que me serviu como aquele pontapé necessário. O Douglas Adams é um autor que veio ali na minha pré-adolescência/adolescência e perdura até hoje. Esse ano reli O Mochileiro das Galáxias, um livro de conforto, sabe? O Douglas Adams me trouxe essa noção de que eu poderia explorar minha criatividade de forma muito mais ampla, que eu poderia sair da caixinha para explorar minha vida como autora, de me desafiar e de tentar fugir do óbvio. Já a Victoria Schwab é a minha autora contemporânea favorita, que tem um peso muito importante na minha vida por ser uma autora assumidamente LGBTQ. Ela é muito ativa nas redes sociais, sempre falando sobre o processo de escrita dela e as vezes eu vejo muitas coisas com as quais me identifico, me sinto acolhida e compreendida. Além disso, ela tem uma escrita diversificada, histórias muito diferentes umas das outras e isso também me inspira muito, pois visualizo sempre a necessidade de explorar ao máximo minha criatividade.
7 - Como se sente ao publicar seu primeiro livro aos 21 anos, e como gerenciar a escrita com a vida acadêmica?
É uma sensação muito doida, sabe? É a realização de um sonho, uma felicidade surreal. Às vezes preciso tê-lo em mãos para ver que ele é real, porque é algo com o qual eu sonhei a vida toda e é muito gostoso. Também me gera aquele famoso “friozinho na barriga” e fico pensando sobre qual será o próximo passo. Mas o sentimento que impera é de felicidade. Quanto a conciliar a escrita com vida acadêmica nem sempre é fácil, às vezes tenho vontade de desistir de um ou de outro e até dos dois (risos). Tem dias que o tempo não rende, mas o que tento fazer é tornar o ato de escrever uma atividade de rotina, pois assim como qualquer outra prática, demanda muita prática, então sempre me dedico nem que sejam apenas 5 minutos, e desta forma não perder o hábito em meio a tantas atividades do dia a dia.
8 - Como foi a experiência de publicação com a Editora Frutificando?
Foi uma experiência, e está sendo, muito boa!! E como eu nunca tinha publicado antes, não tinha noção nenhuma do processo de publicação de um livro. A Janaína e toda a equipe da editora tiveram muita paciência comigo, fui muito bem acolhida e pude participar de todos detalhes da organização desde a produção da capa, diagramação, etc. Eu fiquei muito feliz com o resultado final, quando recebi o livro em mãos eu tinha certeza de que era tudo o que eu tinha sonhado, porque todo mundo contribuiu muito para que isso se tornasse realidade.
9- Possui novos projetos em andamento para futuras publicações?
Tenho, sim. Estou trabalhando em um projeto que está sendo muito divertido de escrever, é bem maior que O Silêncio das Estrelas, o que demanda muito mais do meu tempo, mais pesquisas, mais saúde mental (risos), mais tudo. Trata-se de uma história que eu queria muito desenvolver há algum tempo e ainda não tinha certeza se era o momento certo. Mas, finalmente estou trabalhando nela, escrevendo roteiro e tudo mais, e tem sido muito divertido. O projeto está bem adiantado e creio que estará pronto e poderemos ter a obra publicada até 2023.
10 -Quais são os desafios enfrentados por novos escritores no Brasil?
Levando em consideração a minha experiência e experiência dos meus colegas
e amigos que também escrevem, eu acho que atualmente o maior desafio é conseguir viver da escrita, porque se você não consegue receber um salário justo, uma comissão justa pelo que você escreve, consequentemente você não vai viver só da sua escrita, e não é fácil você ter uma rotina dupla, ter 2 carreiras, porque demanda tempo para pesquisar e escrever. Então, acho que o maior desafio atualmente não é nem publicar, porque tem muitas editoras que estão abrindo as portas e dando oportunidade para autores iniciantes, mas construir uma carreira demanda tempo e muitas vezes a gente não pode desprender desse tempo porque tem que ter jornada dupla ou tripla para conseguir comer, para conseguir se manter.
11 - O que você tem a dizer para os jovens que, assim como você, possuem o sonho de publicar novas obras?
Acredito que conhecer o mercado em que você está querendo se inserir faz toda a diferença, porque oportunidades não são muitas, mas existem, então se você se mantém sempre produzindo e tem um bom número de obras escritas, sempre haverá alguma editora que poderá oferecer a oportunidade de ler o original, ou a participação em algum concurso em que sua obra se encaixa. Por isso, é importante conhecer o mercado e conhecer as editoras, porque não adianta nada você mandar uma obra de ficção especulativa para editora que tem foco em outros gêneros. A maioria dos escritores deseja publicar suas obras e esse conhecimento de mercado é essencial. Portanto, estudem bastante, pratiquem bastante a escrita, sempre produzam algo porque, como mencionei anteriormente, as oportunidades não são muitas, mas elas existem e você sempre terá conhecimento sobre elas, na medida em que busca mais conhecimento a respeito.
Somos muito gratos pela entrevista, Michele, mas principalmente pela entrega à escrita e por ter nos escolhido como um das janelas de exposição do seu dom para o mundo. Só gratidão!
Joyce Hellyen, entrevistadora da Editora Frutificando. Natural de Montes Claros/MG. A escrita faz parte de sua vida desde a infância, com suas primeiras obras escritas aos 8 anos de idade. Ao iniciar a vida acadêmica, afastou-se temporariamente da poesia, retornando em 2018 e divulgando, pela primeira vez, parte do seu trabalho no perfil do Instagram @enjoypoems1. Joyce é bióloga, mestra em Entomologia e doutoranda em Ciências da Saúde.
Aproveite para apoiar a literatura, compre quaisquer produtos acima de R$25,00, em nosso site www.frutosdapoesia.com, utilize o cupom promocional JOYCE10 e garanta 10% de desconto.
Apoie a literatura nacional e novos autores.
Amei a entrevista. Muito bom conhecer um pouco mais do processo criativo da autora. Parabéns a Joy pelas perguntas e a Michele, pela entrega. 💚