Por Janaína Lourenço, para a coluna Rota de Fuga, em 29/09/2020
Imagem www.vix.com
Confesso que reciprocidade é um tema complicado para mim, mas exatamente por ele ser complexo, o escolhi para dissertar sobre. Não como entendedora do assunto, nem perto disso, mas como curiosa, alguém que tem dúvidas, e sai em busca de respostas.
Sempre me pergunto, até quando podemos esperar a reciprocidade, sem nos sentirmos culpados? Qual o limite? Ou só eu que sinto aquele aperto, pensando: "Poxa, faço tanto e quando preciso, não recebo nada.". Aí, na mesma hora, já me culpo por pensar assim, pois não faço esperando que a pessoa seja recíproca, mas quando preciso e ela não é, isso me belisca.
Não fazemos pensando no retorno, um favor para um amigo, ajuda para um familiar, boa ação para desconhecidos, certamente não fazemos com a esperança de que algo retornará. Nem temos essa vontade no coração. Queremos mesmo ajudar, de bom grado e ver a pessoa feliz.
Tá! Mas sempre?
Você sempre leva café da manhã na cama para alguém especial, mas nunca recebe nem um bombom, tá tudo bem pra você?
Você doa seu tempo, ouvindo sua amiga quando ela está cheia de paranoias (que não são poucas as vezes), mas quando você precisa de cinco minutos, não encontra. Tá tudo bem, mesmo?
Você não falta à nenhuma apresentação das peças de teatro do seu primo, mas quando precisa de uma mãozinha para te ajudar em um trabalho, não a tem. Tudo bem, novamente?
Para refletirmos, cito aqui, mais uma vez (pois já falei dele, no último texto), o autor Antoine de Saint_Exupéry. Mas gostaria de analisar por um outro ângulo, o famoso trecho dito pela raposa ao pequeno príncipe:
"Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa.".
Podemos parar e refletir que toda ação que você faz é sua, saiu de você, e por ela ser sua, um dia, retornará para você. Assim como o pequeno príncipe, a partir do momento que a rosa o cativou, ele só tinha um objetivo, que era retornar para ela. Agora podemos relembrar o trecho completo, e que não é muito divulgado (o que tira até um pouco de contexto, por aí):
"- É o cuidado que você dedicou a sua rosa que a faz tão especial.
- O cuidado que eu dediquei a minha rosa... - repetiu ele para gravar na lembrança.
- As pessoas esquecem essa verdade - frisou a raposa. - Mas você não deve esquecê-la. Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa. É responsável por sua rosa...
- Sou responsável por minha rosa... - repetiu o pequeno príncipe a fim de jamais esquecer. "
Então, lembre-se, somos responsáveis pelo que doamos, pelo amor, pelo tempo, carinho... e também raiva, ódio, maldade. Termino o texto pensando que certamente tudo o que vai, uma hora volta. Mesmo que não volte pela mesma via, mesma pessoa, mesmo caminho que foi, mas volta. E isso você não precisa esquecer.
Às vezes, até já voltou, e você nem percebeu, pois estava distraído(a) esperando o bumerangue chamado reciprocidade voltar pelo mesmo caminho.
Kommentare