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Rejeitando o Paraíso

Por Martins Silva, para a coluna Despertar


Deus sabe que não quero ser um anjo, não quero ir  pro  paraíso. Esse é um conceito que aparece discretamente por aí nas artes afora.

Antes de qualquer coisa eu gostaria de deixar claro pela primeira vez, que  eu enxergo  todas as religiões como uma forma de arte também. As quais também foram criadas pelos homens, mas também acredito que exista uma força maior.

Uma forma bem simples de resumir arte é,  arte  é a exteriorização de sentimentos, ideias, vontades e pensamentos. É quando você coloca  pra  fora através de pinturas, de músicas, de poemas, aquilo que se passa dentro de sua cabeça. A arte que você consome também diz muito sobre você, as músicas que ouve, os filmes que você assiste e porquê estou dizendo isso? Bom como  eu acabei  de deixar claro, eu também  acho que  todas as religiões foram feitas pelo homem, e quase todas as  religiões  que existem nesse mundo, exteriorizam um certo desejo do ser humano. Quase todas possuem algum tipo de paraíso, algum  tipo  de vida eterna.

O cristianismo tem o paraíso em si, os nórdicos, tem o Valhala. O budismo tem o nirvana. Os egípcios acreditam no Aaru e por aí vai. Com isso explicado, voltamos ao nosso ponto inicial, a ideia contrária, a  ideia  de não querer participar de um paraíso pode parecer loucura, não é? Recusar a ideia de não precisar trabalhar, não  precisar  conquistar nada, estender a mão embaixo de uma árvore  para  a fruta cair na sua palma, uma vida sem preocupação, uma  vida  calma, tão  calma  que perde a graça, se torna monótona.

Aqui vai um pequeno texto de um artista brasileiro, chamado Suzano Correia. Aquela velha ideia do paraíso não é uma perfeita descrição do próprio inferno?

A mim me parece um lugar, sem aventuras, sem dramas, sem histórias. A única nota do marasmo ecoando por todo o infinito em linha reta.

Acho que  vocês já devem estar começando a captar a ideia. Indo direto ao ponto, a mensagem que  eu quero  passar é: Não tenham medo de problemas, não se acomode em uma situação confortável, porque tudo nessa vida é efêmero, é passageiro, inclusive nós mesmos. Viver num paraíso sem se preocupar com nada, pode parecer muito tentador a primeira vista, mas  pra  mim uma vida assim não teria um pingo de graça. E  eu não consigo nem imaginar o quão fraco, eu seria como pessoa, se a vida não tivesse me feito passar por todos os problemas que já passei. Muitas pessoas no mundo diante dos problemas, simplesmente abaixam a cabeça e ficam tristes ou ficam com raiva e estressadas, se deixam ser vencidas. Quando eu  acho que  o certo seria simplesmente se sentir desafiado, a vida nos desafia sempre, faz parte da  vida  de qualquer ser humano nesse mundo, passar por dificuldades. E  aquilo que não nos mata, nos fortalece! Seja mental ou fisicamente, é assim que ganhamos experiência e amadurecemos, óbvio eu não quero ser um hipócrita aqui também. Existem coisas que são irreversíveis, a perda de um  ente querido , talvez adquirir uma doença, mas enquanto você tiver uma maneira de lutar, lute! Se tiver como você se adaptar, se adapte! É isso que faz a vida ser bonita, é isso que nos dá orgulho, vencer, superar os próprios limites, ir além.

Agora imaginem um mundo onde todos vivessem  pra  sempre, sem se preocupar com o tempo, sem precisar fazer nada. Não. Eu dispenso,  esse mundo não é  pra  mim. Na minha opinião são as nossas limitações que nos fazem humanos, e superar essas  limitações, mais ainda, é aí que tá a graça, através dos dramas da vida que vêm as mais inspiradoras histórias. Resumindo, ser feliz faz parte da vida, mas sofrer e superar também, é por isso que Deus sabe que eu não quero ser um anjo, que eu não quero ir pro paraíso.

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