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Sobre o Caos

Por Martins Silva, para a coluna Despertar, 04/02/2021.




Esse registro é só mais um, em meio a todos os outros, que vai tratar de tudo que todos já devem ter ouvido falar, pelo menos uma vez na vida.


Nada novo, apenas em uma nova embalagem que vai acabar sendo descartada após o uso, como todas as outras.

Na verdade isso tudo não passa de uma disposição planejada de palavras, que já foram gravadas e repetidas algumas vezes. Não existem palavras não ditas. Não existe nada que não tenha sido feito. Não existe absolutamente nada que já não tenha simplesmente sido.

A arte é furto, tudo é furto. Ninguém nunca disse nada que já não tenha ouvido antes, seu trabalho foi no máximo reorganizar em uma nova embalagem. E eu acho que já falei o que fazemos com embalagens por aqui e se não falei, agora existe algo a mais pra abordarmos futuramente.


O objetivo aqui não é te convencer, já que ninguém é convencido de nada que não queira ser.


Muito menos de te causar uma mudança, somente nós conseguimos mudar a nós mesmos. E na maioria das vezes não mudamos, e então isso é apenas um instante entre muitos outros. E o que você vai tirar daqui, só depende de você, só você pode me dizer.


Talvez você realmente tire algo, mas isso eu tô fazendo mais por mim, do que por você.


E, possivelmente. da sua boca saiam palavras tão vazias, a ponto de você mesmo cair no vazio delas, palavras que não levariam ninguém a lugar nenhum, muito menos você.


Chegou a hora de pararmos de apontar o dedo pra todo o resto, e nos virarmos contra nós mesmos, somos a testemunha e ao mesmo tempo cúmplice.


O simples é idêntico ao complexo, ligamos as telas dos nossos aparelhos e podemos assistir os sapiens se tornando Deus. Um Deus que se esconde atrás de uma falsa sensação de controle, de uma máscara de ego e completa vulnerabilidade. Mas mesmo assim mantém a postura de quem tá no topo de uma cadeia alimentar, que ele mesmo criou e nomeou. E essa tal cadeia o aprisiona nessa posição.

Em momentos como este que podemos aprender algo, talvez deveríamos nos lembrar de quão frágil a humanidade pode ser.


O caos exterior, às vezes nos domina também, ele pode ser mais forte do que nós.

Onde o caos mora? Vai pra fora agora e olha pro maldito céu para o qual você tanto ora, fala pra esse "Deus" pra quem tu sempre chora, que não quer morrer, mas só que a vida te apavora. Fecha os olhos e me diga você: onde o caos mora?

Onde o caos mora? Na próxima vez que se perguntar isso, vire o dedo contra si mesmo. Não existe bem e nem mal, há tempos que devemos nos desprender de figuras dicotômicas como Deus e Diabo, bom e mau, luz e sombra. Não são opostas, nunca foram e estão longe de ser. São sempre duais, inseparáveis e complementares.


E mais do que nunca é importante entender de uma vez por todas, que nós somos o produto causador do bem e do mal, e os dois residem dentro de nós mesmos.

Não importa que tipo de pessoa você se considera ser, foda-se o seu protegido conceito de moral, justificar tudo com nomes bonitos, só serve como uma muleta pra nos arrastarmos, e continuar não sentindo o peso da responsabilidade das nossas decisões.


Somos deus e somos o diabo, sempre fomos e sempre seremos. E agora o demônio dentro de mim saúda o demônio dentro de você. Que meu caos interior saúda o seu e que nós, caos interior que somos, saudamos todo o caos exterior.

É o que somos, amantes do acaso. Hoje eu aprendi isso e em vez de nos colocarmos contra essa nossa natureza, talvez devêssemos aprender a canalizar essa força destrutiva pra um fim decente. E não deixá-la aprisionada dentro de nós, fingindo que ela não existe.


Canalizar toda a força que você deixa de lado, finge não ter, negligencia pra destruir tudo aquilo de mais sujo em você, tudo aquilo de mais podre, todos esses artifícios de identidade que nos prendem a uma falsa ideia de eu.

Chegou a hora de tiramos as máscaras, não somos bons, não somos maus, somos o que somos e chame isso como quiser. Tudo é furto e eu acabei de roubar a razão, tudo é sempre sobre ter razão, esse foi nosso jogo nos últimos anos. E a verdade é que não sei se a tenho agora nessas coisas que te escrevo, não vou mentir, gosto muito dela, mas depois disso não sei se quero tê-la pra mim.


Já que o antigo dono, sofria de depressão, o conhecimento antes de te libertar, vai te aprisionar e te torturar, e a pergunta aqui é simples:


Você está disposto a pagar esse preço?


No fim, todos nós somos só reféns da nossa própria mente, vivendo no cativeiro da nossa consciência e quanto antes tomarmos consciência disso, melhor.

E com o tempo necessário, podemos aprender a transformar o cativeiro em forja. Afinal é do fogo mais quente que se faz o aço mais forte.


O sofrimento é só a casca do ego se quebrando, existem milhares de maneiras de dizer a mesma coisa, todas elas anteriormente, já ditas. Mas em tempos como este, talvez seja necessário uma simplificação. Talvez devêssemos apenas abraçar o caos e trocá-lo pelo ego. Preferir e aprender a enxergar a beleza, na confusão que somos, em vez dessa suja falsa noção do eu.


O primeiro passo é entender e se encontrar em meio ao caos é tomá-lo para si. E, de fato, abraçar o caos. Só a dor é passageira.

Se pudéssemos prever milimetricamente, cada ação de cada criatura com extrema precisão, poderíamos chegar bem próximos de prever o futuro e assim, até cogitar abandonar essa ideia de caos, isso seria algo próximo do impossível, mas imaginando isso podemos aprender algo.


Todo esse caos, é completamente variável, a partir das decisões que cada um toma, até podemos tomar decisões individuais hoje, mas, no fim, dividiremos do mesmo amanhã.


O que eu quero dizer com isso? O comportamento de cada um hoje vai definir o que vamos encontrar amanhã. Lembrar da importância de cada um, fazer a sua parte nessa tempestade, talvez seja a coisa mais importante em tempos de caos. Em dias tão difíceis quanto estes, está na sua mão. Ou melhor, nas nossas.

Então que abracemos o caos como fruto de tudo, e que possamos dar importância necessária ao agora a cada pequena decisão. A cada pequena escolha, são elas que definirão o nosso amanhã.

E agora pode escolher amassar tudo isso e jogar no lixo, como uma embalagem velha, ou tirar algo daqui, esse algo só você que pode me dizer. Porque no fim é isso, algumas escolhas estão nas nossas mãos e essas, sim, merecem a nossa preocupação.


De todo o resto, abrace o caos.

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