Por Martins Silva, para a coluna Despertar
Do começo de 2017 pra cá, cada vez mais na internet vêm surgindo boatos, notícias e tópicos sobre um novo mal do século.
Pois bem, se existe um novo, tem que já ter existido um velho, correto? Então primeiro de tudo, vamos entender o que foi o primeiro mal do século. Pra isso vamos voltar ao século XIX, que foi quando tudo isso começou, nessa época a tuberculose era uma das maiores causas de morte, não só no Brasil, mas no mundo todo! Ela dizimou não só milhões e milhões de pessoas anônimas, como também levou embora, muito cedo, vários artistas importantes. E por isso a tuberculose é considerada o primeiro mal do século. Acontece que, ao mesmo tempo em que a tuberculose ceifava a vida das pessoas ao redor do globo, aqui no Brasil estava começando a segunda geração da poesia romântica. E justamente por estarem vivendo numa época onde a morte era algo tão iminente, e chegava tão cedo pra grande parte das pessoas, esses poetas foram imensamente influenciados por isso. As obras, além de idealizarem amores platônicos e impossíveis, eram carregadas de muito pessimismo, e negatividade. Eles tratavam a vida como algo tedioso, não tinham esperança nenhuma de felicidade e pra eles, a realidade era algo bem sem graça.
Resumindo esses poetas flertavam com a morte e eram atraídos por ela.
O maior poeta brasileiro dessa época é o Alvares de Azevedo, talvez você nunca tenha lido nada dele, mas eu tenho certeza que, pelo menos, você já ouviu falar. E bem, só pra vocês terem uma ideia, ele morreu aos 21 anos de idade, afetado pela tuberculose. Os poetas brasileiros em geral dessa época eram muito influenciados pelo Lorde Byron, um outro poeta, só que inglês, que também morreu de tuberculose do outro lado do mundo, e enfim, esse foi o velho mal do século. O novo mal do século que vem sendo cada vez mais discutido são os problemas na nossa própria mente. Por exemplo a síndrome do pânico, ansiedade e principalmente a depressão. A Organização Mundial de Saúde apontou a depressão como tema principal no ano de 2017, o que ajudou a colocar o novo mal do século ainda mais em foco. E assim chegamos numa pergunta bem simples, que devemos fazer pra qualquer coisa, se tivermos a oportunidade, a pergunta é... Por quê? Por que esses problemas psicológicos estão sendo considerados o novo mal do século?
Chegamos então no assunto principal do tema desse mês, a solidão urbana. Óbvio que esses problemas psicológico podem surgir de traumas graves, longos períodos de tristeza ou até mesmo, simplesmente, do nada. Porém, o ponto que eu gostaria de discutir hoje com vocês é a solidão urbana, o fato de estarmos dentro da selva de pedras, rodeados de milhares e milhares de pessoas e mais conectados do que nunca, e mesmo assim, ainda temos aquela sensação, às vezes, de estarmos sozinhos. Primeiro de tudo, eu não posso e muito menos quero ser injusto com a tal solidão urbana, cada um tem o seu jeito de lidar com ela. Eu particularmente adoro. Algumas pinturas de um artista, chamado Edward Hopper, representam de maneira perfeita essa minha visão positiva da solidão urbana. Inclusive vou deixar uma como capa desse texto. Nessas artes de Edward Hopper teremos pessoas solitárias, ambientes urbanos mas silenciosos, sem toda aquela barulheira da cidade grande, ambientes noturnos e esse tipo de coisa. Pra mim, elas passam um grande sentimento de silêncio e tranquilidade, mas o interessante é que essas pinturas podem ter interpretações diferentes de pessoa pra pessoa, justamente pelo jeito de cada pessoa lidar, a sua maneira, com a solidão urbana. Tudo nesse mundo tem seu lado bom e ruim. E é aí que chegamos no lado negativo de toda essa história, como eu acabei de dizer, cada pessoa tem seu jeito de lidar com a solidão urbana. Por exemplo, pra algumas pessoas, ficar em casa, principalmente, sozinho, pode ser a pior coisa do mundo, angustiante, seria preferível estar numa festa ou num lugar com muita gente. Pra outras pessoas, a casa é o melhor lugar do mundo, e ambientes com barulho e muita gente não são, nem um pouco, bem -vindos, é o meu caso. E cada caso é um caso, cada mente é um mundo diferente e cada pessoa tem sua própria história e maneira. Mas pra deixar mais claro pra vocês, como a solidão urbana pode ser prejudicial pra uma pessoa, mais uma vez eu vou usar a arte como exemplo, dessa vez não pinturas, mas sim, um filme, Taxi Driver de 1976, esse filme nos apresenta Travis, um motorista de táxi vivendo na grande metrópole de Nova York, apesar de estar vivendo nessa cidade grande, de ser um motorista de táxi, atender pessoas todos os dias, ele, ao longo dos anos, foi deixando de falar com os pais, não conseguiu fazer novos amigos, não tem uma namorada. Ele está rodeado de pessoas, mas sempre sozinho, e essa solidão é, literalmente, enlouquecedora, e vemos ela evoluir ao longo do filme. Táxi Driver é um dos meus filmes preferidos e se você nunca assistiu, se eu fosse você, depois desse texto, iria correndo procurar ele pra ver. Mas enfim, pra concluir, vou usar aqui mais uma frase de um poeta, um romancista espanhol "A solidão é muito bela, mas quando se tem alguém por perto pra compartilhar dela." Nessa frase Gustavo Becquér basicamente disse o que eu penso, a solidão é otima, nela eu consigo ter as minhas melhores ideias pra textos e frases, ouvir as minhas músicas em paz esse tipo de coisa. Mas tudo tem limite, a solidão, além de ser necessária, ela vai aparecer de uma maneira ou de outra, cabe a você aproveitar ela ou não, mas se por algum acaso você acha que tá te fazendo mal, não deixe de compartilhar isso, pedir ajuda não é nenhuma vergonha e você pode fazer isso até de maneira indireta. No mais, eu espero que tenham gostado do tema desse mês, e eu adoraria saber a opinião de vocês, aqui nos comentários.
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