Por Victor Garcia, para a coluna Textos Sinceros - 26/06/2021
Não sei exatamente quando comecei a escrever, não me lembro da primeira vez que, inconscientemente, passei para o papel o que estava pensando ou sentindo. Sei que no começo da adolescência escrevia alguns versos nos cadernos, agendas e apostilas da escola. Não notava que naquele momento escrever havia se tornado necessidade, fazia parte dos meus hábitos. A maior influência eram letras de músicas, e inclusive parodiava algumas com a turma da escola. Nunca fui genial no que escrevia, mas servia para entreter.
Naquele momento pensava ser algo da idade, não que no futuro a necessidade de transcrever em palavras sensações e ideias ficaria cada vez mais forte. Conforme crescia, não parava de escrever. Mesmo conciliando trabalho, curso universitário e outras obrigações, ainda encontrava tempo para o processo criativo.
Em 2012 houve um avanço grande na minha condição de escritor. Após uma conversa sobre mitologia com um amigo, tive a ideia de registrar uma história com a temática, misturando elementos da mitologia grega e algumas outras com situações do cotidiano, e posso dizer que esse foi meu primeiro romance. O que obviamente não ficou bom.
O mais importante é que se iniciou ali uma nova etapa, onde entendi qual seria meu caminho como escritor. Levei mais alguns anos para encontrar o caminho das pedras, porém, acho que encontrei, e ainda estou passando por elas. O fato é que desenvolvi de modo muito peculiar a relação com a literatura, seja lendo, escrevendo, publicando obras e/ou trabalhando para publicá-las. Em muitos momentos, a escrita e o processo criativo não foram simplesmente hábito, hobby ou desejo. Em determinadas oportunidades, um alimento, em outras, remédio.
Em momentos delicados da vida, o foco no processo criativo foi uma natural e inconsciente terapia. Concentrei muita energia, tempo e atenção, que me blindaram de pensar negativamente e como consequência me deprimir. Por isso, mais do que um escritor, sou como filho da escrita, alguém que precisa ser grato a ela e tentar tratá-la com muito respeito, embora tenha minhas limitações como ser humano e como consequência de um profissional da literatura.
Um exemplo de vários momentos em que me serviu de terapia foi no início do isolamento social causado pela pandemia, em março de 2020. Um dos piores momentos, pois todos estavam ainda se adaptando à situação. Muita gente teve a mente enfraquecida, dificuldades em encarar a situação. Particularmente tive um sopro criativo, onde elaborei a base de muitas obras que publicarei com o passar do tempo, obviamente realizando os devidos reparos. Às vezes tenho a impressão que foi uma benção de Deus para evitar que minha mente perdesse a lucidez naquele momento. Sou muito grato a isso. Mesmo que nunca tivesse publicado uma única obra, não ganhasse nenhuma recompensa tangível ao escrever, já teria valido a pena. Internamente sei o quão importante foi para mim.
Por isso a literatura merece uma compreensão especial. Tive muito prazer em escrever e para isso é preciso leitura. Muitos amantes da literatura não são escritores, mas encontram na leitura o mesmo pilar, amenizando os problemas e frustrações. Por isso também - em minha ótica - aumenta a responsabilidade de quem escreve. Qualquer produção literária tem a capacidade de contribuir com a vida de um indivíduo e/ou vários, e, por isso, seu poder tende a ter o aspecto de uma faca de dois gumes. Uma frase mal escrita, por qualquer motivo, pode desanimar um leitor, contribuir para uma ação ruim e até mesmo espalhar ideias erradas. Espero não participar desse pecado, embora, tenha a ciência de que todos estejamos suscetíveis às frases, versos, capítulos e obras inteiras ruins, nessa percepção, mesmo que estruturalmente sejam bem escritas.
A arte em geral abrange essa capacidade. Aprofundo na literatura, por ser meu trabalho. Histórias em quadrinhos, dentro de suas peculiaridades, possuem capacidade e responsabilidade semelhante. Sejam obras com muitos volumes ou simples tirinhas. A mensagem é transmitida de diversas formas. Por isso mesmo, qualquer material exposto pode influenciar de alguma forma. De qualquer maneira, a escrita é um mecanismo poderoso. Possui força e alcance. As palavras dizem muito, e saber usá-las adequadamente é fundamental.
As possibilidades que a criatividade e transcrevê-la de forma escrita permitem são maravilhosas, libertadoras, permitem ampliar os horizontes, em todos os sentidos, de quem escreve e de quem lê. Propor reflexões e discussões, despertar sentimentos. Bons escritores e bons leitores fazem boa parceria a serviço da sociedade.
Agradeço a ser escritor, minha sanidade atualmente. Em alguns momentos, focar pensamento em processo criativo me salva do tédio, em outros, dos problemas. Sem contar as pessoas que conheci como consequência. Inclusive a oportunidade dessa coluna.
Victor Fabrício dos Santos Garcia é natural de Ribeirão Preto/SP. Em 2019, tornou-se escritor colaborador do portal “Papisher” e publicou o livro digital na Amazon “O Luau do Silêncio”, uma coletânea de crônicas e versos. Em outubro de 2020, publicou, em parceria com a Editora Frutificando, o romance “Come-Fogo – O Maior Clássico”, uma história ficcional mergulhada no universo do esporte, com foco principal no clássico entre os dois clubes de futebol de sua cidade natal, Botafogo e Comercial. Dedica-se à literatura e cultura em geral, também com um projeto ligado à pesquisa genealógica e história familiar, chamado “Genealogia e Cidadania”, o qual tem um canal no YouTube homônimo.
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Muito obrigada por todo o seu apoio à literatura, Victor. Adoro seu livro "Come Fogo", aprendi muito com ele. 😊