Por Rones Farias Filho, para a coluna Maturescência, em 01/01/2021.
Via de regra, não sou muito adepto dessa visão de vida - bastante popular, reconheço - a qual faz crer que com o último tique-taque de um ano para o outro, magicamente, todos os problemas pelos quais passamos, analogamente, terão sido "enterrados", num solo longínquo, por uma força poderosa chamada Passado. Mas, nesses últimos dias, tenho andado diferente. Provavelmente devido a t-u-d-o que ocorreu em 2020, acredito eu.
Decidi, perto da virada - ou pouco depois, já não lembro ao certo - que, assim como todo mundo "faz", eu deixaria, de alguma forma, muita coisa para trás. E, entre tudo que resolvi entregar nas mãos do Passado, para que este faça o que quiser, está as cinzas de um antigo amor. Deixei também os cacos de sonhos sonhados a dois, que foram quebrados; e até algumas lembranças bonitas - de um 'eterno' que, como todos, também acabou. Na verdade, sendo justo, foram várias lembranças bonitas. E mais algumas outras coisas.
Tudo estava bem distribuído entre os cômodos do meu coração, de tal forma, que, visível e visualmente, era até agradável. Harmônico. Dava um certo ar aconchegante ao ambiente, por assim dizer. Mas, ainda assim, já não havia mais razão de certas coisas permanecerem ali - reconheço. Juntei tudo que percebi ser desnecessário, e depois de uma geral, entreguei ao Passado o que era passado.
Existiram em um determinado momento. Foi bonito enquanto durou, mas, mas... Sei lá. Se acabou, acabou, né? Não há razão para se guardar peças de um quebra-cabeça incompleto, principalmente quando já nem é mais possível identificar traços da imagem que antigamente se formava.
E assim eu começo 2021. Mais leve. Mais livre. E por que não mais l-i-v-r-o? Aberto, novo, sem rasura, à espera de escre-viver histórias e estórias que estão prontas para nascer. Te aconselho a fazer o mesmo. Digo, do seu jeito. Abre as portas do coração. Pega o que 'tá' dentro e você não precisa mais, entrega diretamente nas mãos do Passado. Você também merece se sentir mais livre, mais leve e mais l-i-v-r-o.
Começamos o ano com uma aula de RFF. Sensacional, escritor. 💚