top of page

O direito aos livros e a gostar de ler

Atualizado: 5 de ago. de 2021

Por José Aerton, para a coluna Por Linhas Tortas - 04/08/2021



O sociólogo Antônio Cândido defende que a literatura deveria ser um direito de todos. Em coro ao pensamento do mestre eu diria que esse é um direito essencial, entretanto de forma inversamente proporcional à sua importância é negado a milhares de brasileiros. Seja pela intencional negativa de nossa cultura e da força dela, seja pelo medo de o conhecimento literário tornar o cidadão mais consciente de si mesmo e de seu papel social, o acesso aos livros não é facilitado, não faz parte de nenhuma política pública prioritária.

As manifestações literárias são um espelho da sociedade, é sobre cada um de nós e de todos ao mesmo tempo, que os enredos são construídos. Vejam as princesas e sua espera pelo príncipe encantado, os heróis destemidos, os mocinhos corajosos e os vilões implacáveis. São todos inspirados no cidadão comum, em seus anseios de amar, de vencer, de tornar o mundo melhor. Todos os dias somos heróis e heroínas, derrotamos monstros como a fome, o desemprego, a arrogância, a violência, as doenças e outros sem números de inimigos que ameaçam a nossa paz e o mundo ao nosso redor. Representados nos livros, ganhamos superpoderes, somos mais bonitos, mais sensíveis, mais capazes e apaixonamos milhares. Da mesma sorte os vilões na ficção se vestem de outras maldades, com mais requinte e poder de execução. Na vida real, às vezes também somos derrotados pelos problemas que nos afligem, tudo isso muito bem retratado na literatura. A ficção, paradoxalmente, torna real nossas vidas, enche-as de significados. Se não pudermos acessá-la, menos nos conheceremos, menos nos identificaremos com nossa história, com nosso real. Sem a leitura das obras ficcionais perdemos identidade, unidade, seremos o que somos hoje, desconhecedores de nosso papel na sociedade e no drama de nossa existência. Assim revestido, o homem se torna menos vulnerável, menos manipulado e mais humano. A ficção ainda nos tira de nossos lugares insossos e nos transporta à magia da imaginação, nos dopa da fantasia. E, dopados sentimos menos as dores e angústias, ambas inevitáveis no mundo palpável.

Quando governantes, ou mesmo a escola, privam a população do acesso ao livro, estão tirando-lhes outros direitos, como o da diversão. Se as políticas públicas nesse país pouco contemplam o lazer, em se tratando da promoção dele a partir da literatura, elas se tornam ainda menos visíveis. A leitura é e deveria ser incluída como atividade de lazer, em especial as obras ficcionais. Essas captam atenção, emocionam, estimulam a adrenalina, serotonina, são verdadeiramente prazerosas. Entretanto, enxergar o ato de ler dessa forma é um desafio porque é tirado desde cedo, da população, o direito de gostar de literatura. Nessa empreitada, os gestores públicos e os gestores escolares são bem eficientes, a falta de bibliotecas públicas associada a quase não existência destas nos espaços escolares são aliados para a construção de um público leitor restrito nesse país. Ademais, o alto custo dos exemplares é outro entrave inibidor da formação de novos leitores, que se soma à extrema valorização midiática da arte musical e cinematográfica em detrimento da arte escrita. Assim, cresce a cultura de não apreço pelos livros, pois não é fácil se ter apreço por aquilo que não está no seu meio, é distante ou exótico. Carecemos todos nós do direito aos livros, do direito de gostarmos de ler, do prazer da leitura de ficção e de todos os benefícios advindos dessa prática.

 

José Aerton é pernambucano, tem 49 anos e mora em Cabo Frio no Rio de Janeiro. Marido, pai e avô. Pós-graduado em Letras, atua como professor de língua portuguesa e italiana. Tem três livros publicados, dois deles de redação para o Enem e um de poesias e crônicas, segue inspirado e apaixonado pela arte da escrita. Como alimento para essa paixão, mantém a conta @joseaerton no Instagram.

 

Aproveite para apoiar a literatura, compre quaisquer produtos acima de R$25,00, em nosso site www.frutosdapoesia.com, utilize o cupom promocional COLUNISTAJOSE10 e garanta 10% de desconto. Apoie a literatura nacional e nossos colunistas.



Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
14.png

©2018 - 2025 Editora Frutificando - Edição, publicação e venda de livros

CNPJ 38.155.042/0001-74 | Estrada dos Bandeirantes, 27238 | Vargem Grande | Rio de Janeiro -RJ | Brasil.

​Todos os livros têm frete enviado por registro módico, via Correios.

O prazo de envio (postagem) é de 15 (quinze) dias úteis, quando o livro já saiu da pré-venda. Enviamos para qualquer CEP no Brasil. Livros que não temos no estoque, terão acrescentados em seu tempo de envio mais 10 (dez) dias úteis, para que possam ser impressos. Não enviamos encomendas para fora do Brasil.

 

Site criado com muito ♥ pela designer editorial @jana.l.o.u

"Só eu conheço os planos que tenho para vocês: prosperidade e não desgraça e um futuro cheio de esperança. Sou eu, o Senhor, quem está falando." Jeremias 29:11

Atendimento de segunda a sexta, das 8h às 18h

Selo6_30Dias_0.75x.png
  • Facebook
  • Instagram
bottom of page